quarta-feira, 30 de março de 2011

PRESENTE DO MAR

A princípio, o corpo cansado toma conta por completo. Como se estivéssemos a bordo de um navio, caímos numa apatia profunda. Rebelamo-nos contra nossa própria mente, contra todas as decisões inadiáveis, voltando aos ritmos primitivos da beira-mar. As ondas altas na praia, o vento nos pinheiros, o lento bater de asas das garças do outro lado das dunas - tudo isso abafa o ritmo frenético da cidade, com seus compromissos de hora marcada e suas obrigações. Ficamos como que enfeitiçados pelas ondas, pelo vento, pelas garças. Soltamos o corpo, nos espreguiçamos na areia. É como se nos tornássemos a própria areia, amortecidos pelo mar. Expostos, abertos, vazios como a praia, deixamos que as marés apaguem nossas marcas passadas.
De repente, numa manhã qualquer, a mente desperta, renasce para a vida outra vez. Não no sentido "urbano", mas no sentido "marinho". Ela começa então a flutuar, a se mexer, a fazer movimentos suaves e negligentes como as ondas preguiçosas que se quebram na praia. Nunca se sabe que possíveis tesouros essas ondas inconscientes vão lançar à areia branca e suave do consciente. Talvez uma pedra redonda de formato perfeito ou uma concha rara do fundo do mar; talvez uma concha-pera, uma concha-lua ou até mesmo um argonauta.
Mas esses tesouros não devem ser procurados, muito menos desenterrados. Nada de escavar o fundo do mar. Isso frustraria nosso objetivo. O mar não recompensa os que são por demais ansiosos, ávidos ou impacientes. Escavar tesouros mostra não só impaciência e avidez, mas também falta de fé. Paciência, paciência e paciência é o que nos ensina o mar. Paciência e fé. Precisamos nos deitar vazio, abertos e sem exigências, como a praia - esperando por um presente do mar.

Quem sabe você nesse um minuto de vídeo, alcance o que Sócrates pediu na prece de Fedro, quando disse: "...ajudai-me a buscar a beleza interior e fazer com que as coisas exteriores se harmonizem com a beleza espiritual."  Deixe de preguiça e vai fundo nessa viagem...A conquista da paz interior é feita de atitudes.




(Texto extraído do livro Presente do Mar de Anne Morrow Lindbergh(foi escritora, poeta, esposa, mãe de 5 filhos e primeira norte americana a obter brevê de piloto de planador. Viajava com o marido realizando pesquisas ambientais.Faleceu em 2001 com 94 anos)

Beijo no coração. Eu, Angela.

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